sábado, 27 de fevereiro de 2010


A História de S.Pedro da Cova

A história de São Pedro da Cova teve início nos princípios da fundação de Portugal: em 1138 D. Afonso Henriques doou a D. Pedro Rebaldis, sucessor do Bispo do Porto, o chamado “Couto de São Pedro da Cova”. Esta doação foi confirmada em 1379 por D. Afonso III no julgado de Gondomar, o que pertence também ao “Concelho e Julgado de Aguiar”.
Com a extinção dos Coutos em 1820, a freguesia de São Pedro da Cova adquiriu o título de Concelho, que terminou em 1836. A povoação deste concelho passou a pertencer ao concelho de Gondomar.
Depois da descoberta em 1802, de carvão e antracite, existentes no seu subsolo, torna-se um centro mineiro de grande importância. Inicialmente, a sua exploração era escassa e mais tarde, nos anos 30, intensificou-se. Esta terra forneceu trabalho a várias gerações de empregados, tornando-se o principal ganha-pão. São Pedro da Cova começou a ser conhecido em Portugal como “Terra Mineira”.
O encerramento das minas, em 1970, deveu-se à crise instalada pela baixa de preços do petróleo. Devido a este problema, os habitantes tiveram de procurar melhores condições de vida, levando-os a fazer parte de um mundo completamente diferente do seu, o que agravou ainda mais a lastimável situação económica e social.
Foram criadas medidas para o crescimento e desenvolvimento económico, originando as condições e a qualidade de vida necessárias à população, o que tornou o desejo dos habitantes de São Pedro da Cova realidade.


Informação retirada do site : http://esspedrodacova.hostwq.net/joomla/docs/escola/vilaspcova.pdf
"Ao Mineiro"

"De machado ao ombro, gasómetro na mão .
O passo rasgado e olhar sereno .
A tiracolo um farnel pequeno ...
O corpo tatuado por golpes de carvão !

Toupeira humana debaixo do chão .
Vai rasgando a pulso duro terreno .
Sem ver a luz do sol nem luar ameno ...
O carvão arranca a golpes de picão !

Às tuas mãos calejadas, duras .
Ao teu braço forte e abnegado ...
À tua firmeza e à tua coragem ...

A toda uma vida pejada de agruras .
Neste teu museu hoje inaugurado .
Te perpetuamos a merecida homenagem !"


30 de Setembro de 1989
Autoria: David Rodrigues
Condições de Trabalho
Do Homem:
Inicialmente, os mineiros não tinham muitos materiais para realizarem o seu trabalho. Capacetes e galochas não eram materiais de que os mineiros pudessem usufruir na altura. As condições de trabalho também eram péssimas. Os materiais de protecção e ajuda para a realização do serviço mineiro apareceram mais tarde. Relativamente às condições de trabalho, pode-se afirmar que muitas vezes a temperatura no interior da mina chegava aos 27ºC. Quando retiravam o carvão das paredes, chegavam a atingir alguns lençóis de água, e por isso, os mineiros, em algumas galerias, trabalhavam com água até aos joelhos (muitas vezes os trabalhadores ganhavam infecções e quando agravadas, estes tinham de ser amputados). Outro dos problemas eram as passagens... muitas galerias eram tão pequenas, que para ser extraído o carvão, os trabalhadores tinham de rastejar e com um simples balde e uma picareta retiravam o carvão.
Na hora de almoço, tinham cerca de meia hora para o fazer e comiam dentro das minas. Os trabalhadores entravam para as minas de manhã e só saíam, quando acabavam o seu trabalho à noite. Quando os trabalhadores queriam fazer as suas “necessidades” não tinham um lugar próprio para o fazer, e como já referido, não podiam sair das minas.
O trabalho nas minas era muito duro e por vezes havia uma grande taxa de mortalidade nesta profissão, por dois motivos: Primeiro, nem sempre o oxigénio chegava a todas as galerias, tendo os trabalhadores que suster a respiração para conseguir realizar a tarefa e nem sempre conseguiam chegar a tempo a um local onde o oxigénio passasse e morriam sufocados. Outro motivo devia-se à utilização de explosivos para facilitar o trabalho dando origem a rebentamentos. Neste tipo de acontecimentos, os mineiros tinham de respeitar uma medida de segurança, mas nem sempre essa medida era suficiente e acabavam por ser “apanhados” pela explosão, ou então eram muitas vezes vítimas das derrocadas ocorridas devidos aos rebentamentos.
A estes trabalhadores só lhes era oferecido materiais, como por exemplo, a picareta. O gasómetro (única forma de iluminação), o carbonete (gás necessário para o funcionamento dos gasómetros) e outros tipos de materiais eram os próprios trabalhadores que tinham de comprar com o seu salário e para não bastar, tinham de pagar os seus alimentos a uma cantina existente naquele local.


Da Mulher :

As mulheres também tinham umas péssimas condições de trabalho, trabalhavam cerca de nove horas. Estas tinham várias tarefas, uma delas era partir o carvão de joelhos, estas trabalhadoras chamavam-se britadeiras. Para a realização do seu serviço usavam simplesmente uns óculos e um martelo de britar. Apesar de estas mulheres trabalharem de joelhos, não lhes era permitido qualquer tipo de protecção. Durante o seu afazer, era-lhes recusado água. Estas trabalhadoras tinham uma mão livre e a outra ocupada com o martelo de britar. Caso parassem com o seu trabalho para descansar (colocando a mão livre no chão) ou simplesmente para falar, eram vítimas de agressões físicas por parte do capataz.
Outra das tarefas que as mulheres tinham era fazer o transporte do carvão para ou outros sectores. As cargas tinham cerca de 1000kg e só duas mulheres podiam empurrar essas cargas. O solo tinha inclinações e muitas das vezes, nas descidas, os vagões descarrilavam por estas não terem força suficiente para segurar a carga.
Doenças
Na altura, existiam alguns problemas relativamente ao serviço mineiro. Devido ao pó de carvão que os mineiros, durante a realização do seu trabalho inalavam, corriam o risco de contrair uma doença, a Silicose, intitulada na altura, a “doença dos mineiros”. Esta era uma doença incurável e só era detectada através de radiografias. Quando detectadas, os operários eram enviados para outro sector onde não estivessem em contacto com o carvão, para poderem continuar a trabalhar, sem prejudicarem ainda mais a sua saúde.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Casa da Malta/Museu Mineiro

Antiga casa que servia de alojamento aos mineiros, os “malteses”, este edifício adquirido à Companhia das Minas de Carvão e reconstruído pela Junta de Freguesia da Vila de S. Pedro da Cova é, desde 30 de Setembro de 1989, Museu Mineiro. Único no género em Portugal, constitui o exemplo vivo da preservação de todo um passado histórico relativo à tradição mineira local bem como à memória colectiva da gentes de S. Pedro da Cova.

“ … O Museu Mineiro apenas permite mostrar parte da negra realidade em que eram obrigados a trabalhar os mineiros e outros trabalhadores das minas e de como era feita a exploração do carvão (antracite).

A Casa da Malta significou, e significa ainda, para muitos dos que trabalharam nas minas, a separação de suas famílias e a criação de laços de amizade com outros companheiros de fortuna, numa vivência colectiva marcada pela repressão e exploração desumanas.

A história do povo de S. Pedro da Cova está totalmente associada a um passado de luta contra o jugo opressor e a reivindicação de melhores condições de vida e de progresso social.

A partir de agora podemos usufruir de um espaço de cultura e de lazer onde funciona além do Museu Mineiro, uma Biblioteca, um Centro de Dia para a 3ª Idade, um Gabinete de Apoio aos ex-trabalhadores das minas e um Anfiteatro para realização de diversas iniciativas.”
(in discurso de intervenção de Constantino Loureiro, Presidente da Junta de freguesia de S. Pedro da Cova, na inauguração da Casa da Malta/Museu Mineiro, em 30/09/89).

Informação retirada do folheto: Casa da Malta/Museu Mineiro.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Actual Complexo Mineiro









Texto de opinião sobre a visita ao Complexo Mineiro


No passado dia 6 de Fevereiro, o nosso grupo dirigiu-se juntamente com a responsável da Casa da Malta/Museu Mineiro de S. Pedro da Cova, a um percurso museológico. Este percurso começou com a saída da Casa da Malta/ Museu Mineiro, passámos por um Bairro de Operários mineiros onde observámos o tipo de casas em que estes homens e mulheres viviam. Vimos o campo de futebol que a companhia das minas patrocinou para a organização de uma Associação Recreativa e Desportiva do seu Pessoal. Passámos por mais uma antiga Casa da Malta onde actualmente se encontra em actividade o café "O Emigrante".
Depois de passarmos por uma Escombreira (plataformas artificiais formadas pelo depósito de resíduos estéreis, no caso de S. Pedro da Cova, resultantes da exploração de carvão), pelo Centro de Saúde, pela Cooperativa (Cantina) / Padaria, Farmácia / Posto Médico / Escola e Casa da Direcção chegámos ao ponto mais marcante da visita museológica: o Complexo Mineiro de S. Pedro da Cova.
Depois de entrarmos dentro do complexo mineiro o que observámos é do ponto de vista cultural e histórico, completamente triste. Pessoalmente considerei o que vi, uma das coisas mais bonitas que se pode ver mas num estado lastimável.
Quem quiser perceber o que eu quero dizer, basta imaginar aquilo mais belo que alguma vez já viu e transformar isso em algo degradado, com “graffitis” e “tag’s”, sujo, com ervas e silvas. É triste ver um monumento considerado património nacional que representa o suor de centenas de seres humanos e em alguns casos as suas próprias vidas, a realizarem aquilo que eu considero uma das profissões mais nobres que pode haver, a ser deixado ao abandono e aos poucos começando a desaparecer.
O complexo mineiro que em muito ajudou a impulsionar a economia da zona de Gondomar / Porto, está em fase de destruição pela ânsia por dinheiro dos responsáveis. Aquilo que demorou anos a construir, pode desaparecer em muito pouco tempo.
Por muito que tente, nem eu nem o meu grupo, conseguimos ser indiferentes ao que vimos e é por isso que vamos tentar fazer algo para o preservar e valorizar, para que não caia em esquecimento. A todos aqueles que se quiserem juntar a nós basta deixarem uma mensagem neste blog. Muito Obrigado.


Informação sobre os lugares visitados recolhida do folheto do percurso museológico, fornecido pela Casa da Malta / Museu Mineiro de S. Pedro da Cova.

À Superfície das Minas

Na superfície, a realização do trabalho era dominado pelas mulheres e pelas crianças.
O trabalho da escolha do carvão era feito num espaço coberto, onde as mulheres (escolhedeiras) se posicionavam em volta de um tapete rolante onde era feita a selecção do minério. Uma outra função essencial das mulheres era a britagem (britadeiras) do carvão bruto extraído pelos operários do subsolo. As trabalhadoras eram ainda obrigadas a executar outros tipos de serviço, entre os quais empurrar vagonetes carregadas de carvão bruto e transportar à cabeça carvão e lodo.
As mulheres e as crianças eram contratadas por um custo salarial inferior ao dos homens, esta diferença era justificada pelo facto de o trabalho feminino e infantil ser considerado “leve” e “simples”, adaptado com a suposta fragilidade físico-mental dos contratados. Além disso, prevalecia o argumento de que essa actividade possibilitava um ganho adicional para a família mineira.

“Trágico fim de um mineiro em S. Pedro da Cova”


“Num trágico desastre ocorrido hoje, de manhã, nas minas de S. Pedro da Cova, perdeu a vida um mineiro que deixa na orfandade três filhos de tenra idade.
A principiar mais um dia de duro e intenso labor, cerca das 7,30 horas, encontrava-se na secção nº 55, junto da chaminé do Poço do Grilo, a algumas dezenas de metros de profundidade o mineiro Francisco da Silva Sousa, de 30 anos, casado, residente no bairro da Empresa das Minas de S. Pedro da Cova, acompanhado do seu ajudante Adão de Freitas Pinto, de 19 anos, solteiro, residente no referido bairro.
A certa altura quando ambos procediam à difícil tarefa de extrair o carvão, por motivos que de momento se desconhecem, deu-se um súbito e inesperado desmoronamento no local onde os dois homens se encontravam.
Antes porém e apercebendo-se do perigo iminente o Francisco avisou o seu companheiro que se afastasse sendo logo a seguir esmagado pelas pedras que lhe causaram a morte instantânea. O aviso do infeliz evitou que o seu companheiro de trabalho tivesse também um fim trágico.

Dado o alarme prontamente acorreram aquela galeria grande número de mineiros que após porfiados trabalhos feitos em condições deveras difíceis, pois havia o perigo de novas derrocadas, conseguiram trazer para a superfície o corpo do malogrado Francisco da Silva Sousa que foi removido para a farmácia da companhia.

O trabalho nas minas é sempre acompanhado dos mais variados riscos porquanto os operários que nelas actuam estão sujeitos a perigos que vão desde o desmoronamento de terras até à presença, nas galerias subterrâneas, dos diversos gases inflamatórios e tóxicos que, com frequência, surpreendem os trabalhadores das minas. Por tal razão, as precauções tomadas são muito severas, a obrigar o uso de calçado e vestuário próprios, de capacetes adequados, máscaras de vários tipos e de sistemas de iluminação sem chama. Por sua vez, a própria abertura das galerias, a sua comunicação com o exterior, para que se consiga uma ventilação quanto possível perfeita, e outros aspectos estruturais, são alvo de cuidadosos estudos e de muito atenta fiscalização.
Apesar disso, e dos próprios operários, que trabalham nas minas há algum tempo já, terem como que a percepção de acidentes próximos, assim mesmo é muito considerável o número de vítimas verificado entre os primeiros. E ao trazer-se às páginas de «O Acidente» o caso relatado na notícia que transcrevemos, faz-se prova da percepção referida, mas, sobretudo, tem-se a pretensão de destacar o procedimento da vítima, Francisco da Silva Sousa, que, apercebendo-se da derrocada iminente não quis abandonar o local sem ver longe dele o menor que o acompanhava como seu ajudante. Foi, pois, vítima da sua abnegação – de uma abnegação que o Adão de Freitas, por ter sido salvo, jamais poderá esquecer e não terá melhor forma de o recordar do que usando de todos os meios de segurança capazes de defender uma vida que, apesar da sua, ficou para sempre empenhada pelo sacrifício da outra”.

“Trágico fim de um mineiro em S. Pedro da Cova”, O acidente do mês, 1969-01-06

Casa da Malta retrata o passado de São Pedro da Cova - “Museu lembra vida nas minas”

“As minas de São Pedro da Cova encerraram na década de 60, mas reabriram, como museu, para perpetuar a memória de gerações de operários”.




“A Casa da Malta guarda muitas histórias mineiras de São Pedro da Cova, em Gondomar. Renasceu depois do 25 de Abril, como museu, a fim de perpetuar a memória dos que sofreram a exploração fascista.

David Rodrigues, de 80 anos, é o zelador. Nunca trabalhou nas minas, mas viveu, pelo sofrimento de familiares e amigos, a brutal exploração dos operários – «toupeiras humanas debaixo do chão», como ele lhes chama num dos seus poemas.
As minas, com quase século e meio de actividade, encerraram na década de 60. Debandaram os malteses ainda mais pobres do que quando chegaram. O dormitório onde pernoitaram, exaustos, minados pela doença, em celas exíguas sobre enxergas de fetos, também fechou portas. Reabriu depois da Revolução de Abril, como museu, para lhes perpetuar a memória.
É aqui, na Casa da Malta, que David Rodrigues passa os dias a explicar aos mais novos as histórias dos mineiros de São Pedro da Cova. À entrada, no jardim, está «a viúva», o eléctrico negro que transportava o carvão para o Porto. No interior, no rés-do-chão, há uma vagoneta carregada, além da reconstituição da entrada da mina e de todos os utensílios, desde o picão à lanterna, utilizados pelos mineiros.
O preto e branco de fotografias expostas nas paredes mostram-nos o trabalho das mulheres: empurram vagonetas e britam pedras de carvão. Vislumbram-se rostos tristes, de quem sofre em silêncio. No andar de cima há amostras de carvão e de outros materiais fossilizados. E uma cela intacta, a enxerga e a janela estreita, lá no alto.
«O mineiro saía da mina e entrava neste buraco», esclareceu David Rodrigues ao nosso jornal.
Em espaço próprio, David Rodrigues guarda o arquivo da companhia. São milhares de fichas com o cadastro dos operários, ao lado de outras pastas com inquéritos quase policiais aos trabalhadores e a indicação das sanções aplicadas. No ano de 1959, um operário foi surpreendido pelo capataz com cinco pinheiros, «furtados da floresta da companhia, onde já se encontravam cortados pelo nosso pessoal» – conforme se pode ler numa informação ao director técnico da mina. O capataz propôs como castigo ao «infractor» uma pena de três dias de suspensão. O director rubricou essa informação e no local próprio da ficha confirmou a pena.
Num outro documento é acusado um determinado mineiro de ter partido a parte de vidro que resguardava uma lâmpada eléctrica. «O arguido», refere a acusação, «revelou falta de cuidado. Proponho que a substituição da lâmpada seja feita à custa do operário, a fim de evitar abusos no futuro.» O director concordou com a pena. Teve, então, o operário de pagar «a importância de 30 escudos». Muito dinheiro para quem, na década de 40, ganhava 21 escudos diários – se estivesse na categoria de mineiro de primeira. As penalizações são múltiplas e, no mínimo, surrealistas.
Houve mineiros, conta-nos David Rodrigues, que abandonaram a mina sem receberem o salário.
Mesmo assim, refere, ainda ficaram em débito com a companhia. Porque o rol de infracções a descontar no ordenado é imenso: largar o trabalho sem avisar o superior, não ter minado o espaço marcado pelo capataz, sair da mina descalço, entre outras.

Solidariedade de um cavalo

Foram longos anos de exploração, de chantagem, de prepotência. Em 1946, pelo menos, os mineiros uniram-se e levantaram-se contra «o patronato nazi-fascista». A história vem contada num folheto do Partido Comunista Português, guardado com zelo na Casa da Malta.
«As condições de trabalho destes operários», diz o folheto, «são as piores que se conhecem. Sem condições higiénicas, trabalhando num calor de forno, saem da mina para o frio e para a chuva descalços e sem qualquer agasalho que os defenda!»
A maioria dos trabalhadores recebe «menos do que 21 escudos diários» e os salários «estão sujeitos a grandes descontos»: quem ganhar 21 escudos tem um desconto diário de oito por cento, mas precisa ainda de descontar 7,5 escudos por semana para o carboneto, e 2,5 para o sindicato – «à frente do qual se encontrava o grande traidor da classe operária, António de Espinho».
Neste levantamento, o que estava em causa era a exigência de um «aumento dos salários, de mais géneros e de melhores condições de vida. Os incidentes, porém, acabaram com a prisão de quatro mineiros. «Mas os seus camaradas, companheiras e filhos, acorreram imediatamente ao posto» e conseguiram, com êxito, a liberdade de detidos.
O zelador da Casa da Malta guarda o folheto dentro de um envelope. Foi o filho de um engenheiro, diz à nossa reportagem, quem «ofereceu este exemplar». Conta-nos, depois, o número de vezes que passou pela Rua do Heroísmo, a delegação da Pide no Porto. E a história surpreendente de um cavalo.
Chamava-se Leal e o seu trabalho era puxar vagonetas carregadas de carvão. Parava, porém, quando chegava a hora de almoço dos operários. E ninguém o demovia, também, se a carga fosse superior ao habitual. «Há animais», comenta David Rodrigues, «mais solidários do que certos homens»”.

MANGAS, Francisco, “Museu lembra vida nas minas”, Diário de Notícias, 1994-10-24