segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

“Trágico fim de um mineiro em S. Pedro da Cova”


“Num trágico desastre ocorrido hoje, de manhã, nas minas de S. Pedro da Cova, perdeu a vida um mineiro que deixa na orfandade três filhos de tenra idade.
A principiar mais um dia de duro e intenso labor, cerca das 7,30 horas, encontrava-se na secção nº 55, junto da chaminé do Poço do Grilo, a algumas dezenas de metros de profundidade o mineiro Francisco da Silva Sousa, de 30 anos, casado, residente no bairro da Empresa das Minas de S. Pedro da Cova, acompanhado do seu ajudante Adão de Freitas Pinto, de 19 anos, solteiro, residente no referido bairro.
A certa altura quando ambos procediam à difícil tarefa de extrair o carvão, por motivos que de momento se desconhecem, deu-se um súbito e inesperado desmoronamento no local onde os dois homens se encontravam.
Antes porém e apercebendo-se do perigo iminente o Francisco avisou o seu companheiro que se afastasse sendo logo a seguir esmagado pelas pedras que lhe causaram a morte instantânea. O aviso do infeliz evitou que o seu companheiro de trabalho tivesse também um fim trágico.

Dado o alarme prontamente acorreram aquela galeria grande número de mineiros que após porfiados trabalhos feitos em condições deveras difíceis, pois havia o perigo de novas derrocadas, conseguiram trazer para a superfície o corpo do malogrado Francisco da Silva Sousa que foi removido para a farmácia da companhia.

O trabalho nas minas é sempre acompanhado dos mais variados riscos porquanto os operários que nelas actuam estão sujeitos a perigos que vão desde o desmoronamento de terras até à presença, nas galerias subterrâneas, dos diversos gases inflamatórios e tóxicos que, com frequência, surpreendem os trabalhadores das minas. Por tal razão, as precauções tomadas são muito severas, a obrigar o uso de calçado e vestuário próprios, de capacetes adequados, máscaras de vários tipos e de sistemas de iluminação sem chama. Por sua vez, a própria abertura das galerias, a sua comunicação com o exterior, para que se consiga uma ventilação quanto possível perfeita, e outros aspectos estruturais, são alvo de cuidadosos estudos e de muito atenta fiscalização.
Apesar disso, e dos próprios operários, que trabalham nas minas há algum tempo já, terem como que a percepção de acidentes próximos, assim mesmo é muito considerável o número de vítimas verificado entre os primeiros. E ao trazer-se às páginas de «O Acidente» o caso relatado na notícia que transcrevemos, faz-se prova da percepção referida, mas, sobretudo, tem-se a pretensão de destacar o procedimento da vítima, Francisco da Silva Sousa, que, apercebendo-se da derrocada iminente não quis abandonar o local sem ver longe dele o menor que o acompanhava como seu ajudante. Foi, pois, vítima da sua abnegação – de uma abnegação que o Adão de Freitas, por ter sido salvo, jamais poderá esquecer e não terá melhor forma de o recordar do que usando de todos os meios de segurança capazes de defender uma vida que, apesar da sua, ficou para sempre empenhada pelo sacrifício da outra”.

“Trágico fim de um mineiro em S. Pedro da Cova”, O acidente do mês, 1969-01-06

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